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Meralgia Parestésica: Compressão do Nervo Cutâneo Lateral da Coxa

Meralgia Parestésica: Compressão do Nervo Cutâneo Lateral da Coxa

Meralgia parestésica, dor, dormência e formigamento na coxa, nervo cutâneo lateral da coxa

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Resumo. Meralgia parestésica (MP) é o quadro resultante da compressão do nervo cutâneo lateral da coxa (NCLC) abaixo do ligamento inguinal. Os sintomas ocorrem na lateral da coxa (fig 1) com dor em queimação, adormecimento, formigamento e aumento de sensibilidade, todos de forma constante ou intermitente. Os fatores de risco são obesidade, diabetes, gravidez e aumento da pressão sobre o nervo por roupas e cintos apertados e portabilidade de objetos na cintura, etc. Os principais diagnósticos de exclusão são radiculopatia pela ressonância nuclear magnética (RNM) e eletroneuromiografia (ENMG) e neuropatia periférica pela ENMG. A MP é um transtorno benigno devendo- se no tratamento conservador focar nos fatores de risco, atividade física regular, tratamento da dor neuropática, acupuntura e agulhamentos de pontos gatilho. Cerca de 10% dos pacientes com MP são respondem bem ao tratamento conservador, sendo assim considerados refaratários.

O que é a meralgia parestésica. Meralgia vêm do grego onde meros significa coxa e algia significa dor. Na área médica o termo meralgia parestésica é reservado ao quadro resultante da compressão do nervo cutâneo lateral da coxa, abaixo do ligamento inguinal. O NCLC (fig 2) é um nervo sensitivo, nasce das raízes de L2 e L3 no medula lombar, atravessa o plexo lombossacro na pelve, emerge abaixo do ligamento inguinal e faz a inervação sensitiva da lateral da coxa. A MP têm mecanismos e tratamento similares à síndrome do túnel do carpo (STC), a qual resulta da compressão do nervo mediano no punho.

Os principais fatores de risco da MP são obesidade, diabetes, gravidez, e pressão externa sobre o NCLC, decorrente de roupas e cintos apertados, portar objetos na cintura (revolver por exemplo), atividade física com aumento da pressão externa sobre a virilha etc. A STC compartilha muitos fatores de risco com a MP mas a pressão externa citada acima, deve-se em grande parte a atividades manuais repetitivas na STC.

Diagnóstico diferencial. Os sintomas ocorrem em geral unilateralmente em toda ou em parte da área do NCLC (figura 2 e 5). O principal sintoma é uma dor em queimação na lateral da coxa, adormecimento e aumento de sensibilidade no local. Os sintomas podem ser constantes ou intermitentes, piorando com postura de pé, caminhada,  mudanças na posição no leito e melhorando com com a flexão do joelho.

O diagnóstico em geral oferece pouca dificuldade pois o próprio paciente aponta a região afetada e o médico ali encontra uma área de adormecimento (coincidente com o NCLC), onde também também pode haver uma área de alopécia (perda de pelo). Um diagnóstico diferencial importante e tratável da MP é a dor relacionada a ponto gatilho miofascial, notadamente aquela do músculo vasto lateral (fig 4). Este diagnóstico é importante pois o agulhamento pode surtir resultados surpreendentes. 

É importante excluir e sempre ter elevada suspeição para o diagnóstico de radiculopatia, uma vez que existe superposição na inervação do NCLC e raízes de L2 e L3 (fig 5). Atualmente, sabe-se que as raízes lombosacras podem fazer superposições mais extensas que aquelas citadas na figura 5 e dessa forma, raízes mais distantes podem se manifestar na lateral coxa.

A ENMG é importante para excluir radiculopatías, plexopatia lombosacra e neuropatia femoral. Alguns pacientes também vão necessitar de RNM para excluir radiculopatia estrutural. Salientamos que em nosso serviço muitos casos de MP tratados por vários anos e controlados, evoluem para radiculopatia com RNM mostrando espondilodiscoartrose. Por último salientamos que a MP é uma neuropatia compressiva, devendo ser separada das lesões estruturais (raras) do NCLC, que ocorrem na região da virilha: traumatismo, transplante renal, cirurgia de hérnia inguinal, injeções locais, ferimentos penetrantes etc.

Como parte da ENMG da MP, raros pacientes vão necessitar de um estudo específico do NCLC, o qual diferentemente da maioria dos nervos, é estudado com eletrodos de agulha (monopolar), em função de ter uma trajetória mais profunda. Este exame, é uma técnica especial, não é executado rotineiramente, têm custos adicionais, sendo indicado apenas em casos complexos e refratários. No geral, o nível de eficiência da condução nervosa isolada do NCLC na MP, é baixo se comparada  STC.

Tratamento e prognóstico. Primeiramente é importante concientizar o paciente que a MP não é uma doença grave, e que a maioria dos casos têm boa resolução com tratamento conservador (não cirúrgico). Para tal é importante o tratamento dos fatores de risco com redução do peso, tratamento do diabetes e diminuição da pressão sobre o nervo na cintura, utilizando-se roupas  folgadas, melhorias na portabilidade (revólver) etc. Estas medidas em geral produzem bons resultados. Na gravidez os sintomas melhoram após o parto, podendo haver recidiva com uma gravidez subsequente.

Em termos gerais, em nosso serviço fazemos o tratamento multidemensional da dor, utilizamos inicialmente doses baixas de gabapentina (ou pregabalina), adesivos de lidocaina, acupuntura, agulhamentos de ponto gatilho e atividade física regular. Em nossa opinião, acupuntura e agulhamento de PG surtem excelentes resultados num prazo de 3-6 meses, quando então o paciente é desmamado parcial ou totalmente das medicações. Em raros casos a dor pode ser severa, e diante desta situação, o tratamento da dor neuropática segue a regra geral, com adição de opióides. 

A literatura cita casos rebeldes de MP (10% do total), relato que não corresponde a nossa experiência pois sempre temos bons resultados. Para estes casos rebeldes, a literatura propõe uma infiltração de corticosteróide a nível do ligamento inguinal. Caso a infiltração apresente bons resultados é indicado descompressão cirúrgica. Salientamos que não existem evidências nem consenso específico na literatura, sobre a eficácia dos diferentes tratamentos da MP. Desta forma é importante que seja enfatizado a adesão às diferentes etapas do tratamento conservador por pelo menos 6 meses, antes dos tratamentos invasivos e cirúrgicos. Em nosso serviço nunca ecaminhamos um paciente com MP para tratamento cirúrgico

Referências.

Amato AA, Russel JA. Focal neuropathies of Lower extremities: Radiculopathies, plexopathies and mononeuropaties. In: Neuromuscular disorders, Ebook kindle 2nd Ed, McGraw Hill, New York (USA) 2015: chapter24

Katirji B and Wilbourn AJ. Mononeuropathies of lower limb. In: Dick PJ, Thomas PK. Peripheral Neuropathy 4th ed, Elsevier-Saunders, Philadelphia (USA) 2005: pp 1463-1487

Cheatham, Scott W; et al. Meralgia Paresthetica: A review of literature. International journal of sports physical therapy. 2013: 8(6):883-93

Creditos.

Woman from fig 1: <a href="https://br.freepik.com/fotos-gratis/a-mulher-aperta-uma-pele-com-as-maos-em-um-quadril-para-verificar-uma-celulite-parte-do-corpo-feminino-vista-lateral_10232440.htm#fromView=image_search&page=1&position=1&uuid=3d239589-ab6d-4911-bd6d-f36a4ace41bd">Imagem de valuavitaly no Freepik</a>

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